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Detectado no Brasil, vírus de plantas pode atacar cultivos agrícolas





As espécies foram encontradas nas proximidades de um pomar de maracujazeiros no município de Santa Bárbara do Oeste



Plantas de zínia (fotos A e B) infectadas pelo Bidens mottle virus (BiMoV-BR), apresentando sintomas de mosaico, deformação foliar e variegação floral; exemplares de picão-preto (fotos C e D) infectados pelo vírus, apresentando sintomas de mosqueamento foliar

Pela primeira vez no Brasil cientistas encontraram o Bidens mottle virus (BiMoV), transmitido por pulgões e que pode afetar o desenvolvimento de plantas, na cidade de Santa Bárbara do Oeste. Os pesquisadores enfatizam a necessidade de identificar o vírus em outras regiões do Brasil para verificar danos em cultivos de importância econômica onde já foi verificada a transmissão, como alface, chicória e girassol. O estudo foi feito pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, e pela Unesp, em Botucatu.

A identificação do vírus teve início com a descoberta de três plantas de zínia (Zinnia sp.) que tinham a doença do mosaico (estrias de cor amarela ou branca, em forma de mosaico), deformação das folhas e variegação floral (mudanças da cor em partes do caule e das folhas) e duas plantas de picão-preto (Bidens pilosa), com sintomas de manchas foliares. As espécies foram encontradas nas proximidades de um pomar de maracujazeiros no município de Santa Bárbara do Oeste e amostras dessas plantas foram analisadas no microscópio eletrônico de transmissão.

“Os resultados revelaram a presença de partículas virais do tipo potyvirus. Trata-se de um gênero cujas partículas são alongadas e flexuosas e foram transmitidos por pulgões na picada de prova para a identificação da planta hospedeira”, relata o professor Jorge Alberto Marques Rezende, integrante do grupo de pesquisadores. “Com base nessa evidência, foi realizado o sequenciamento completo do genoma do vírus e confirmou tratar-se do BiMoV.”

Segundo o professor da Esalq, o vírus, como todos do mesmo tipo, é transmitido por pulgões (afídeos). “Essa picada acontece em alguns segundos ou minutos”, descreve. “Nesse processo o pulgão adquire o vírus na planta doente e na sequência transmite para a planta sadia.”

Gráfico representando o genoma do Bidens mottle virus (BiMoV)

Infecção

Embora os pesquisadores tenham apenas reportado os sintomas apresentados pelas plantas sem fazer avaliação de danos, Rezende afirma que a infecção provavelmente afetou o desenvolvimento das espécies. “É possível que o vírus já estivesse presente no País há muito tempo, porém ainda não tinha sido detectado”, observa. “Isso aconteceu provavelmente porque ele não estava infectando e causando danos em alguma planta cultivada de valor econômico.”

“Experimentalmente, esse vírus foi transmitido para plantas de alface, chicória e girassol, onde pode, em teoria, causar algum dano dependendo da ocorrência da infecção”, aponta Rezende. “No entanto, até o momento não há relato desse vírus nessas plantas no Brasil.”

Fotos de microscópio do vírus BiMoV em amostra de folha de zínia (imagem A) e em meio a estruturas celulares da planta (imagem B)

O professor faz uma recomendação sobre a necessidade de fazer estudos adicionais para identificar se há ocorrência do BiMoV em outras regiões do país. “Esse trabalho servirá para encontrar evidências de ocorrência e danos em plantas de importância econômica que mereçam atenção”, conclui. A descoberta é descrita no artigo “First occurrence of bidens mottle virus in Brazil: biological and molecular characterization of isolates infecting Zinnia sp. and Bidens pilosa”, publicado na revista Scientia Agricola, editada pela Esalq, no último dia 11 de dezembro.

A pesquisa teve a participação dos pesquisadores Gabriel Madoglio Favara, Camila Geovana Ferro, Vinicius Henrique Bello, Felipe Franco de Oliveira, Heron Delgado Kraide, e dos professores Elliot Watanabe Kitajima e Jorge Alberto Marques Rezende. Na Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA), integraram o grupo de pesquisa Marcos Roberto Ribeiro-Junior e a professora Renate Krause-Sakate.

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