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De biojoias a transformação de móveis, reeducandas da Capital são capacitadas em arte com resinas

Reeducandas do EPFIIZ (Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi), em Campo Grande, estão tendo a oportunidade de participar de um projeto de profissionalização de arte em resina. Sob a instrução da artista plástica Karla Mattos, as internas aprendem desde o básico até técnicas avançadas, explorando todo o potencial desse material versátil.

Moderna, a arte promete ser uma área promissora para as detentas, oferecendo a possibilidade de criação de peças exclusivas de decoração e utilitários. Durante as aulas, estão tendo a chance de explorar sua criatividade e desenvolver habilidades na produção de biojoias, chaveiros, efeitos marmorizados, de eternização, renovação e transformação de móveis, entre outros projetos.

O curso é custeado com recursos oferecidos pelo MPT (Ministério Público do Trabalho), por meio de parceria com a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário). A ação conta com parceria da 50ª Promotoria de Justiça, por meio da promotora Jískia Trentin, e do Conselho da Comunidade de Campo Grande, que intermediaram este apoio.

Internas aprendem a fabricar peças delicadas exclusivas.

Iniciada em março, a capacitação terá a duração de três meses, com aulas ministradas duas vezes por semana, totalizando 48 horas de instrução. Durante esse período, as alunas terão a oportunidade de aprender sobre a mistura dos componentes da resina epóxi, o tempo de manuseio até vitrificação, técnicas de acabamento, entre outros conteúdos relevantes para a produção de peças de alta qualidade.

Algumas das peças foram expostas para comercialização, durante a Feira do Artesão Livre, realizada entre os dias 13 e 15 deste mês, em Campo Grande. O material necessário para as aulas está sendo fornecido pelo projeto e inclui kits de resina, caixas de luvas descartáveis, pigmentos, formas de silicone, entre outros itens essenciais.

Artista plástica Karla Mattos.

Com a habilidade certa e a dedicação adequada, as reeducandas poderão explorar este mercado em expansão, encontrando oportunidades para gerar renda e reintegrar-se à sociedade de forma produtiva.

“Além disso, a arte em resina oferece um vasto campo de possibilidades, desde a criação de peças decorativas até acessórios e joias personalizadas”, destaca Karla Mattos, que é artista plástica há 27 anos, curadora de artes e senadora acadêmica cultural de Mato Grosso do Sul.

Além de aprenderem a mexer com os componentes de resina e endurecedor, as reeducandas também estão desenvolvendo técnicas de pigmentação, coloração e secagem.

“Dicas de empreendedorismo também estão sendo fornecidas às reeducandas, para quem realmente quer utilizar como fonte de renda, mesmo porque é um negócio com uma lucratividade boa”, destacou Karla.

“Acredito que conhecimentos como esse dentro de uma unidade penal é muito válido e necessário, são pessoas que precisam de ajuda e de um outro olhar na vida delas, para que enxerguem que possuem talentos e qualidades. Vejo o olho de cada uma brilhando quando montam uma peça, de enxergarem que são capazes e isso é reconfortante”, afirmou a artista plástica.

Para muitas das participantes, este curso representa mais do que simplesmente uma oportunidade de aprendizado, mas sim uma chance de transformar suas vidas através da arte e do trabalho.

Com a certificação fornecida pela Federação Brasileira de Acadêmicos de Ciências, Letras e Artes do Rio de Janeiro ao final do curso, as reeducandas terão em mãos não apenas um diploma, mas sim uma nova perspectiva de futuro.

Maricleia vê no curso oportunidade de recomeçar.

É o que acredita Maricleia José Diniz, uma das 15 reeducandas que estão sendo qualificadas.

“Para mim, essa é uma porta que representa mais que uma simples oportunidade, me vejo fazendo isso lá fora, estou muito empolgada. Será minha fonte de renda, mesmo por que nunca tive carteira registrada e estou decidida a ter uma vida diferente junto com a minha filha de 11 anos”, revelou.

Já para a interna Francisca Kely Lima da Silva, o aprendizado contemplou desde a montagem de um chaveiro à restauração de pequenos móveis em resina.

“É um grande aprendizado que podemos levar pra fora, com a entrega de um produto de qualidade a um preço justo; valeu muito a pena o curso, eu amei”, concluiu.

Responsável por coordenar a ação no EPFIIZ, a chefe do Setor de Educação, a policial penal Ana Lúcia Coinete Depólito, também acredita no poder transformador desta oportunidade que está sendo dada às custodiadas.

“É impressionante ver o crescimento delas em cada aula, a vontade de aprender os segredos dos detalhes em cada peça e ouvi-las fazendo planos em como farão para se sustentarem quando estiverem fora do presídio. Este curso teve o interesse não só na remição, mas, principalmente, no aprendizado para uma possível mudança de vida mesmo”, aponta a servidora.

A diretora da unidade penal, Mari Jane Boleti Carrilho, destacou a relevância dos conhecimentos adquiridos pelas reeducandas e que será multiplicado no setor de artesanato do presídio, como forma de tornar uma oficina permanente.

“Participamos anualmente da Feira Artesão Livre, e essa produção será de grande valia para oferecer essas variedades de peças artesanais à população, além de ser uma forma de continuar a colocar em prática todo o aprendizado”, afirmou.

Neste contexto, a arte em resina não é apenas uma técnica, mas uma ferramenta de empoderamento e reinserção social, proporcionando às reeducandas do Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi a oportunidade de escreverem uma nova história para si mesmas.

A iniciativa é desenvolvida pela Agepen, por meio da Diretoria de Assistência Penitenciária e suas divisões de Trabalho e Educação. 

Keila Oliveira, Comunicação Agepen
Fotos: Tatyane Santinoni/Agepen

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